Lenda da Tapiraiauara
A Tapyra'yawara ou Tapiraiauara é um ser encantado descrito desde tempos imemoriais nas cosmologias de povos originários da Panamazônia. O nome é oriundo da soma de duas palavras em Tupi: o prefixo “tapir” tem significado equivalente a anta e “-iauara”, o
equivalente a onça. É retratada como uma espécie de “onça d’água” ou onça anfíbia que
habita próximo aos charcos, lagos, aningais e igarapés. No Dicionário do Folclore Brasileiro, Câmara Cascudo apresenta o verbete Tapiraiauara com as variantes
Tapioara para descrever um “animal fabuloso para os mariscadores do Rio Madeira e
afluentes do Amazonas”; e Tapira-oiara abreviada em Tapiora. Na referida obra, ele
menciona que até a primeira década do século XX: "Não existia a Tapiora ou Tapioara mas a “Tapyira-Iauára, anta-cachorro, anta-onça, que aparece aos caçadores que violam as leis de caça matando as fêmeas grávidas. Contam que é uma onça com cabeça de anta, que quando o caçador confiante, porque a vê descuidada deixá-lo se aproximar, pensa podê-la flechar a salvo, se levanta e mostra o que é, investindo, mal dando-lhe tempo na maior parte dos casos, a fugir sem olhar para trás” . (CÂMARA CASCUDO, 2012, p. 676)
Sobre a lenda
Entre os Sateré-Mawé que habitam os municípios de Parintins, Barreirinha e
Maués, no estado do Amazonas, a tapyra'yawara (espírito das onças) é mencionada como um dos seis espíritos que protegem a Mãe-Terra. Considerada como entidade sagrada, a tapyra'yawara está associada aos valores éticos que conduzem a relação entre seres humanos, não-humanos e o ambiente. Porque habita os limites da floresta e é uma
das entidades (ou espíritos) responsáveis por sua proteção. Segundo as leis de Tupana, o
criador para o povo Sateré, homens, animais e ambiente deverão existir em uma relação de cuidado mútuo e, é papel das entidades e espíritos da floresta como a tapyra'yawara,
“fiscalizar” essa relação de cuidado.